quarta-feira, 1 de abril de 2020

Quarentena

Pior do que ser impedido de usufruir das belezas do mundo é ser obrigado a olhar de perto os horrores de dentro. O confinamento me faz olhar pra mim, mesmo sem intenção, é mais do que ver meu reflexo, é estar de fato dentro de mim. Que bela oportunidade, chance que quase nunca nos damos pra tratar do ego em sua essência,  de separar O que sou eu, daquilo que construí diariamente buscando adequação, aceitação, representatividade. Separar o amor do egoísmo, separar a admiração da inveja, tirar da dor o que é autopiedade, é entender o perdão de mim por mim e pra mim, libertar a ansiedade do tempo que não me pertence e me impede de estar no presente, enxergar as virtudes e apartá-las da vaidade. A parte difícil é desconstruir o lodo criado em uma vida inteira pra revelar um eu que minha própria consciência desconhece. Avançar até chegar no início,  encontrar a mente genuinamente conectada com o todo, com a força maior e descobrir a unidade que nos torna a própria eternidade. Que esse tempo sirva pra isso, pra entender que não é preciso entender o que sabemos sem nunca termos aprendido, de ler o que há em nos sem nunca ter sido escrito e perceber que toda dor é uma só e todo amor reverbera na mesma frequência.  28/03/2020

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