quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Lussanti

    Do riso fácil da alegria edificada, surge a lágrima sincera do coração ferido. Transformando a dor em arte e construindo nela o próprio amor, o amor próprio de quem sabe amar, aliás de quem é só de amor. Amor que de conta gotas enche o mar, que de sopro em sopro movimenta o ar.

    O mesmo mar que embala seus devaneios,  e nas velas que impulsionam seus caminhos o mesmo vento direciona. Te leva onde a mente nem sempre quis mas sem dúvida a alma aptovou, mas neste barco que tem por leme o coração, seja você capitã, o prazer por destino,  posso eu também ser tripulação?

sábado, 12 de setembro de 2015

O brilho da noite

Enquanto a noite me deixava, em algum lugar dentro de mim se abria para o dia uma nova chance de ser. Deixar-te no breu ó dor e na sofreguidão da luz de um novo dia, junto com ele se abria um alegre amanhecer.

Enquanto a luz se instalava, lá naquele mesmo lugar a poeira já baixava e revelava de turva a expectativa de ver o horizonte. Quando se aprende a andar no escuro não dá pra prever a luz, se ela vai iluminar ou cegará a retina acostumada ao intervir do ouvir, a segurança do toque ou o conforto incômodo que me paralisa.

Enquanto o café coava,  eu escovava os dentes lembrando dos últimos meses, da noite de ontem e de amanhã, sim eu me lembro de amanhã. Nada difícil. Uma rotina desenfreada de nada, um emaranhado de angústia disfarçado de desafios diários que nada mais eram que palavras cruzadas sobre como seria viver uma vida.

Parado no sinal, sentado na calçada, fazendo uma canastra, lendo Jorge Amado, assistindo Almodòvar, perdido na Internet,  assando um bolo (pra quê?), cálculo integral, Maria Adelaide Amaral, álbum de fotos, o flanelinha me acorda, não importa. A vida é o que se aproveita dela pra usufruir ainda nela... Onde eu estava? Também não importa.

Enquanto a chuva caía eu via as ilusões de nuvens de Joni Mitchel me mostrando que os castelos não são meus, e seus canyons que me levam a esborrachar na realidade do asfalto lá embaixo.

Enquanto Chaplin me fazia sorrir, Maysa me fazia entender que o mundo pode até ser lindo no sorriso , mas é no choro desenfreado que despimos a alma para então sorrir de verdade, ou não, descobrir então que é de lágrimas que fizeram você. E que só precisa saber, se basta ou não deixar o som te levar pro seu universo singular onde a beleza da dor te faz cantar.

Quando a noite quis voltar, levar a luz embora outra vez, percebi que olhar pra dentro de mim inebriava minhas emoções e me fazia ver, fazia me ver,  num convexo distorcido o retrocesso do autoconhecimento que o escuro me ensinou a ignorar.

Quando enfim o sol se foi e seu brilho não  fez falta, a luz da noite que guardei escondido comigo, uma estrela, que orientava meu caminhar, tornando menos denso aquele breu, me mostrando quem sou eu nesse escuro caminhar.

Sendo dia sendo noite, sendo riso, sendo dor, não importa onde eu for ou se choro de saudade. Se a saudade é de ninguém,  mas se o choro me mantém, então choro é de verdade.