Pode a beleza da Flor, trazer sua realidade a um Corvo
feliz?
_ Não espere muito de si mesmo, disse a Flor ao Corvo.
_ A natureza o faz negro para demonstrar a prisão de trevas
em que vive, fadado à subsistência através da morte dos que te cercam.
_ Ser portador de más
novas, ave de agouro, portanto solitária, insistiu a flor.
_Como seria uma vida sem cor? Sem a beleza da flor? Nada
reflete tão bem a verdade do amor! O nosso cheiro, a capacidade de ser
reconhecida em meio a qualquer outra coisa...
_ Se pensas que sua habilidade de voar o faz especial, não
se anime...
_ Estou presa ao chão, unicamente por um motivo não me movo,
não preciso, todo aquele que precisa de amor se aproxima de mim, e muitas vezes
nem se contém, e extasiado me leva consigo... Enfim, do que lhe serviriam as
asas se sua presença é indesejável.
Sem ao menos ninguém esperar, vindo do norte uma brisa leve
disfarçada de vento os surpreende, e muito sagaz espalha o maravilhoso cheiro
do campo florido, enchendo suas flores de orgulho de ser o que são.
Este mesmo vento chacoalha a copa das arvores e acorda de
seu sono matutino a desajeitada coruja que bate as asas de pressa evitando a
tragédia do tombo.
_Tudo bem, afirma a Coruja, eu nem estava dormindo tanto
assim. Sou esperta o suficiente para perceber o que está havendo aqui.
_Porque não se defende?
_Erga essa cabeça e diga quem é você!
_ Fale da precisão de seu voo, da beleza na uniformidade de
sua plumagem.
_ Diga como cumpres o ciclo da vida, como és capaz de
façanhas pela própria sobrevivência e de sua prole, mostre a elas seu dom, que
equivale ao do homem, só você dentre todos nós compreendes essa tal de causa e
efeito... O homem se gaba de ser inteligente, por quê você não pode?
_ Mostre a essas “belas” criaturas seus valores, a
capacidade de amar até o fim da vida, como é fiel. Diga que és sinônimo de inteligência!
Indignada estava a coruja.
_ E você? Nervosa a coruja se vira para a Flor que
acompanhava desdenhosa.
_ Você acha que é bela? Pois bem vou dizer o que você é...
_ Você não é bela, a beleza está nos olhos de quem vê, para
uns sim, pode ser, mas para outros um exagero de cores.
_seu cheiro pode enjoar e intoxicar alguém. Esse cheiro pode
ser maravilhoso, mas só o será se quem cheira for capaz de apreciá-lo.
Maravilhosa é a sensibilidade...
_ Só podemos simbolizar o amor através de você se este amor
estiver em nós, é nosso e não seu! O faria com você e o faria com um ramo de
capim, não importa, belo é o amor!
_ Se o homem não resiste ao te ver e a leva consigo, não
passará de uma beleza morta, tão morta quanto a morte que alimenta o corvo que
ofendes, que faz da morte a beleza da vida enquanto você se faz bela mas não vive
o suficiente para fazer valer a pena nem a viajem, não sem o amor de quem a
recebe, ele sim é beleza infindável.
_PAREM! Pela primeira vez a voz do corvo é ouvida, e
surpreendentemente viaja suave vencendo a mesma brisa que outrora a
confrontara.
_Não perturbem minha paz, não façam me exaltar.
_Não me digas o que és, não critiques meu revés, pois não
posso revidar.
_Não importa quem eu sou se o que pensas é assim.
_Eu não tenho outra saída se não for com a própria vida
defender esse jardim.
_Que seria desta vida, o quão seria então perdida sem a beleza
protegida dos girassóis atrás de mim?
Não importa o que eu sou. No fim de tudo só importa o que
faço, o que represento, a minha natureza nada pode fazer contra mim, se a
decisão de ser quem sou é minha.
Não diga de mim, ouça de mim, observe em mim e serei mais
que merece.
(David
Prates 25-03-14)
Lindo, David, parabéns
ResponderExcluirQue honra...rsrs vou escrever um samba pra vc... :) Escrevo só de brincadeira...obrigado pelo carinho ;)
Excluir